quinta-feira, 29 de abril de 2010

Hot iron in "The Cheat "


Em 1915 Cecil B.DeMille realizou um filme que é um prodígio de modernidade: The Cheat, com Fannie Ward e Sessue Hayakawa. Veja-se um excerto de uma das cenas mais impressionantes.

Geraldine Farrar em Carmen (1915), de Cecil B. DeMille


Geraldine Farrar canta Carmen. Imagens do filme Carmen (1915), de Cecil B. DeMille. É uma relíquia, acreditem!

terça-feira, 27 de abril de 2010

Hedy Lamarr em Sansão e Dalila (1949), Cecil B. DeMille
Hedy Lamarr nasceu em Viena (1913) e morreu nos EUA ( 2000). Filha de judeus, foi também engenheira e naturalizou-se americana. Foi estrela da MGM até 1945 e, em 1949, representou Dalila na gigantesca produção da Paramount Pictures, Sansão e Dalila , sob direcção de Cecil B. DeMille.
Como muitas Dalilas antes dela, trata-se de uma recriação complexa e cuidada ( a direcção artística da Paramount era extremamente exigente, com direcção do alemão Hans Dreier; o guarda-roupa esteve a cargo da grande estilista norte-americana Edith Head, a soberba fotografia a cargo de George Barnes)
DeMille deixou testemunhos de que, embora baseando-se em representações pictóricas anteriores ( cita Rembrandt, Rubens, Solomon e Doré, entre outros), pretendia uma Dalila com um toque de Jean Simons, Lana Turner e Vivien Leigh, acabando por achar esses ingredientes numa estrela estrangeira, detentora de um toque europeu e conotada com o noir movie: Hedy Lamarr.
De Hedy Lamarr, disse George Sanders, que contracenou com ela em Sansão e Dalila:  "When she spoke, one did not listen, one just watched her mouth moving and marvelled at the exquisite shapes made by her lips." http://www.guardian.co.uk/film/2009/dec/22/hedy-lamarr-screen-legend   

Renee Fleming, C F Händel: Let the bright Seraphim


A Oratória Samson, de Georg Friedrich Haendel, estreou em Londres em 1743, com base num libretto de Hamilton, por sua vez baseado na obra de Milton Samson Agonistes. Uma das árias mais celebradas é Let the bright Seraphim, aqui interpretada por Renee Fleming.



Hoje regresso a Sansão e Dalila, de Cecil B. DeMille. Dalila é uma criação literária que penetrou na cultura ocidental como poucas, sofrendo todo o tipo de interpolações e alcançando uma fama extraordinária na cultura popular: muito antes de Cecil B. DeMille, o tempo e o imaginário construiram longamente a representação de Dalila, desde que a sua figura apareceu representada numa igreja românica em França. De Mantegna a Morone ou Rembrandt, Doré ou Solomon, tudo se lhe acrescentou. E não podemos esquecer as recriações extraordinárias que resultaram na oratória Sansão, de Haendel, ou na ópera Sansão e Dalila, de C. Saint-Saens. Deixo aqui algumas imagens e momentos musicais que espero que gostem...


Em cima, Sansão e Dalila, do virtuoso Andrea Mantegna( Vicenza, 1431-Mântua 1506), pintor do Veneto. Mantegna introduziu vários símbolos na pintura que não se encontram no relato bíblico: a videira, a fonte, o ramo cortado, que permitem o estabelecimento de ligações com outras passagens bíblicas.
Mais acima, Sansão e Dalila, do veronês Francesco Morone ( 1471-1529) - o autor foi mais fiel ao relato bíblico, e retirou à narrativa qualquer dramaticidade adicional. Dalila, tal como a paisagem, apresenta um semblante harmonioso.

domingo, 25 de abril de 2010

WAGNER: Der Ring des Nibelungen inszeniert von La Fura del Baus

Zubin Mehta e o Anel de Valencia

Zubin Mehta nasceu em Bombaim em 29 de Abril de 1936. Nos anos 90 desenvolveu um percurso artístico muito particular, não hesitando em abraçar projectos arrojados e únicos: em 1998, dirigiu a Turandot em Pequim, numa produção deslumbrante que foi filmada por Zhang Yimou; em 1999, dirigiu a 2.ª Sinfonia de Mahler, «Ressurreição», no ex-campo de concentração de Buchenwald, em Weimar. Mas é a sua ligação a Wagner que o traz para esta página: de facto, em 2008 dirigiu um Anel do Nibelungo impressionante, em colaboração com Carlos Padrissa, dos La Fura Dels Baus, produção que teve continuidade no Tannhäuser que se apresentou este ano, em Abril, no Alla Scala, e que já apresentei aqui.
Esta produção do Anel merecerá uma análise mais detalhada quando conseguir ter acesso ao DVD mas, para já, aqui ficam alguns excertos dignos de nota, valha-nos o YouTube! É uma espécie de trailer do produto...


  1. Este artigo foi publicado na extinta revista da Associação Portugal/RDA. O autor era um wagneriano especial e único: João de Freitas Branco.
  2. ( o meu colega e amigo Vítor Santos teve a gentileza de me ceder esta preciosidade e enviar-me todo o artigo). Conto, com mais tempo, aqui citar excertos deste artigo...

quinta-feira, 22 de abril de 2010


A paixão de Fantin-Latour pela música, no geral, e pela música de Wagner, em particular, foi uma das fontes inspiradoras da sua obra, o que o levou a realizar uma série de obras alegóricas, a partir de fontes musicais que se convertem em imagens. Richard Wagner esteve no centro destes interesses do pintor. Aqui se reproduz O Ouro do Reno, 1888, óleo sobre tela, Hamburg, Kunsthalle.
A obra é inspirada no maravilhoso início de O Ouro do Reno, onde marcam presença as ninfas do Reno e o anão Alberich.
Outro wagneriano que muito aprecio: Henri Fantin-Latour , pintor de origem francesa ( 1836-1904). A obra intitula-se Cena de Tannhäuser
1864, óleo sobre tela. Encontra-se no Museu de Arte de Los Angeles.
Fantin-Latour tem obra na colecção Gulbenkian e, certamente, lembramo-nos da recente retrospectiva que aí lhe foi dedicada...
Tannhäuser, Castelo de Neuschwanstein

Milano. Alla Scala in scena il 'Tannhauser' del maestro Metha e della Fu...

Depoimentos de Zubin Mehta e Carlus Padrissa sobre a produção de Tannhäuser.

Tannhäuser visto por Carlos Padrissa

Esta é uma produção da ópera Tannhäuser, de Richard Wagner, em Abril de 2010 e que teve lugar no Teatro Alla Scala, em Milão. Há um artigo sobre a produção no site no Teatro. A colaboração entre o maestro Zubin Mehta e Carlos Padrissa dos La Fura dels Baus foi curiosíssima: a encenação transportou a ópera para um ambiente indiano e parece que um sector do público do Alla Scala não gostou da inclusão de coreografias bollywoodescas no concurso de cantores em Wartburg, entre outras ousadias que incluíam a a apresentação de linguagens associadas ao vídeo. Mas Padrissa viu na espiritualidade dos peregrinos das margens do Ganges ressonâncias da espiritualidade medieval, captando, igualmente, o cromatismo intenso do traje oriental, associou-o à India moderna, incluíndo, ainda, outros parênteses e interpretações relacionados com a actualidade. Enfim, entre nós , creio que tais ousadias também não seriam perdoadas... Por mim, adorava ter visto, gosto de Mehta, adoro os La Fura ( mesmo que não goste de tudo o que eles fazem...) e, pelo pouco que vi ( e nestas coisas deve ver-se e ouvir-se tudo), parece tratar-se de uma proposta estética bem estimulante...

domingo, 18 de abril de 2010

O facto de haver pouca informação relacionada com as encenações de Wieland Wagner, dizem alguns, deve-se a que os documentos foram destruidos pelo irmão Wolfgang quando assumiu a direcção de Bayreuth. O documentário de Tony Palmer, The Wagner Family, divulgado em Portugal por altura do Congresso Internacional Consequences of Wagner (2009), confirma esses dados. Quem também o afirma é Birgit Nilsson, na sua auto-Biografia La Nilsson editada pela Northeastern University Press, em 2007.

Em 1951, quando Bayreuth reabriu, os irmãos Wieland e Wolfgang estavam empenhados em retirar ao espaço a carga política a que ele ficou historicamente associado: tratava-se de criar uma compreensível ruptura com o passado recente.
Em 1951, Wieland produziu um novo Ring e revelou-se rapidamente um intérprete profundo da obra do avõ Richard Wagner. Sob a direcção de Herbert Von Karajan e de Hans Knappertsbusch, a produção ficou célebre.



Wieland ou Wolfgang? Ou um pouco de cada?


Eis o tema para para a próxima reflexão: a encenação vista pelos dois netos de Richard Wagner

sábado, 17 de abril de 2010


A narrativa bílica apresenta Sansão como um herói que venceu várias campanhas contra os filisteus ( Livro dos Juízes) e, como convém à genealogia heróica, nasceu de uma mulher em circunstâncias extraordinárias. Lembremos outras figuras bíblicas e a genealogia de muitos heróis ( Joseph Campbell, The Hero with a thousand faces). Neste caso, a mulher já não podia conceber e foi visitada pelo Anjo do Senhor, conferindo um carácter transcendental ao nascimento de Sansão, um verdadeiro super-herói, cujo poder vem de Deus e da natureza, apresentando características populares muito acentuadas, de que se destaca um carácter selvagem que se constrói sobre um fio da navalha e que será implacavelmente destruído pela mais letal das tecedeiras de fios e armadilhas: Dalila.
É esta trama que está na base de Samson and Delilah ( Cecil B. DeMille, 1949)

Siegfried- Nothung! (Siegfried forges his sword)

Hoje é dia de anos de Siegfried Jerusalem,grande tenor heróico wagneriano, que nasceu em Oberhausen em 17 de Abril de 1940. Estudou em Essen. Entre 1961 e meados dos anos 70 foi instrumentista em orquestras e tocou fagote na orquestra Sinfónica da Rádio de Sttutgart. Entretanto começou a estudar canto. Em 1975-76, substituiu à última hora o tenor Franco Bonisolli, numa produção televisiva de «O Barão Cigano», iniciando então uma carreira fulgurante que o levou ao Festival de Bayreuth em 1976.
Não posso deixar de lhe prestar uma pequena homenagem, por isso aqui o deixo numa das suas interpretações maiores: o papel de Siegfried, na ópera Siegfried, do querido mestre. Esta passagem integra a famosa e histórica produção Barenboim-Kupfer, em Bayreuth.

sexta-feira, 16 de abril de 2010




Foto das filmagens: DeMille, Claudette Colbert ( Popeia) e Fredric March (Marcus) e Poster do filme.

Nos créditos de abertura de O Sinal da Cruz, realizado por DeMille em 1932, o público é convidado a reconhecer e rememorar o seu conhecimento prévio do tema do filme a partir de dois elementos visuais carregados de simbologia, que se sobrepõem e que serão importantes para as oposições que se jogam no filme: a águia e a cruz. Esse processo de rememoração dos símbolos é fundamental, porque é a partir dessas primeiras referências que o espectador inicia o processo interno de confronto com os seus próprios ícones e imagens armazenadas ou enterradas no inconsciente, consituindo o efeito de detonação a que Carl Gustav Jung se referiu em O Homem e os Seus Símbolos. Desencadeado o processo de reconhecimento, é o espectador que lê e faz a imagem.


O colóquio já se realizou. Aguardamos a publicação do resumo de intervenções.
A iniciativa foi organizada pelo CESEM e a organização científica coube a Paulo Ferreira de Castro, Gabriela Cruz e David Cranmer.
Houve duas interessantíssimas projecções de filmes:
Carl Froelich - The Life of Richard Wagner (1913)
Tony Palmer - The Wagner Family (2009)

Carmen Habanera (vaimusic.com)

A lendária Cantora Geraldine Farrar, do Metropolitan, foi uma Carmen incandescente em palco e no ecrã, representando de forma única a personagem da peça de Prosper Mérimée. No filme de DeMille, realizado em 1915, Farrar foi coadjuvada por Wallace Reid ( Don José) e Pedro de Cordoba ( Escamillo). A ópera desempenhou um papel de destaque no desenvolvimento da linguagem fílmica de Cecil B. De Mille e a contratação de uma cantora de ópera de renome para desempenhar o papel principal representou uma forma de credibilizar a linguagem do cinema numa altura em que ela ainda estava a dar os primeiros passos, entre outros aspectos.

A banda sonora é uma recriação da partitura de Hugo Riesenfelds para a estreia do filme de 1915 sob a direcção do musicólogo e director Gillian B. Anderson, com a London Philarmonic Orchestra. Como bonus, em algumas das cenas ouve-se a interpretação de Farrar.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Filmagens de «Cleopatra» ( 1934), com Claudette Colbert
Como em relação a toda a obra de DeMille, o cuidado na encenação e cenografia são extremos, naquilo que era uma marca distinta da Paramount Pictures. Repare-se na composição quase pictórica do plano em que Sansão entra na tenda de Dalila, com dois planos distintos, um mais aproximado, outro mais recuado, criando aproximações e afastamentos. Trata-se de uma citação da pintura racional do renascimento, que DeMille estudou apaixonadamente...

São inesquecíveis as primeiras imagens e sons de Sansão e Dalila, filme que DeMille realizou em 1949: apresenta-se toda uma concepção de História que percorre as estéticas do sublime e do pitoresco...
A cena é dotada de uma força cinematográfica tão grande que não admira que Martin Scorsese tenha feito referência a este extraordinário início de filme...

Bayreuth Festspielhaus - behind the scenes

Wilhelm Richard Wagner (Leipzig, 22 de Maio de 1813 - Veneza, 13 de Fevereiro de 1883)
Cecil B. DeMille (Ashfield, Massachusetts, 12 de Agosto de 1881 - California, 21 de Janeiro 1959)
Este blogue é dedicado a Richard Wagner e a Cecil B. DeMille, e criei-o para poder escrever sobre eles: ao primeiro, admiro-o, quanto ao segundo, estou a trabalhar sobre ele.

Bem-vindos ao meu blogue!